Depois do estado de letargia imposto pelo novo coronavírus na primeira metade do ano, a economia brasileira dá sinais de reação e deve recuperar parte das perdas no terceiro trimestre. O impulso é tracionado pela retomada mais rápida do que a estimada de setores fundamentais, como o varejo, que em agosto cresceu 3,4%, o maior patamar em 20 anos, e a volta da atividade industrial para níveis próximos ao pré-crise. O tom otimista se reflete na revisão para cima do Produto Interno Bruto (PIB) entre julho e setembro, em comparação aos três meses anteriores, e o fim da recessão técnica iniciada no segundo trimestre. Enquanto o Ministério da Economia estima avanço de 7,3%, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê que a soma das riquezas produzidas pelo país chegue a 9% no período. A euforia é compartilhada pelas análises de outros agentes do mercado. A XP Investimentos alterou a estimativa para 7,8%, mesmo caminho adotado pelo banco Safra, que espera avanço de 8,5% do PIB no terceiro trimestre, ante alta de 5% estimada no início de setembro. Para a Cláritas Investimentos, a recuperação deve ficar próxima de 8%.
Os indicadores econômicos divulgados nas últimas semanas indicam a recuperação para o período. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado como a prévia do PIB, cresceu 1,06% em agosto, a 4ª alta consecutiva. No trimestre encerrado no mês, o avanço foi de 5,94%. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o cenário pessimista encarado no primeiro semestre foi superado com mais agilidade do que o esperado. “A recuperação está um pouco melhor do que se imaginava no segundo trimestre, quando a queda do PIB para este ano estava se encaminhando para ser alguma coisa entre 8%. Conseguimos entregar um resultado melhor do que o esperado, mesmo que a queda no fim do ano ainda seja muito forte”, afirma.
Impactado pelo fechamento do comércio, paralisação da indústria e suspensão de atividades, o PIB recuou 5,9% nos primeiros seis meses do ano, na comparação com a primeira metade de 2019. Este foi o maior tombo para o período desde o início da atual série histórica divulgada pelo IBGE, iniciada em 1996. O número é resultado das quedas de 2,5% e 9,7% no primeiro e segundo trimestre, respectivamente, também recuos recordes para os períodos. A despeito da retração histórica na primeira metade do ano, e os reflexos no aumento do desemprego e fechamento de empresas, Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, pontua que o desafio do presente é encontrar meios para transformar o pico de crescimento do terceiro trimestre em algo sustentável. “A questão que põe, neste momento, é como acelerar essa retomada, adotando medidas para estimular um crescimento mais vigoroso ao longo do tempo, com investimentos e criação de empregos”, afirma. No recorte do PIB industrial, a entidade espera avanço de 10% no terceiro trimestre.
As medidas de isolamento social tomadas para evitar a disseminação da Covid-19 paralisaram a maior parte do setor de serviços, responsável pelo maior mercado de trabalho brasileiro. A recuperação de 2,9% de julho para agosto, a 3ª alta consecutiva, indica a retomada gradual do segmento. Para a equipe de analistas do banco Safra, a retomada tonifica a recuperação da economia no terceiro trimestre. “O setor, que é o mais afetado pela crise do coronavírus e cuja retomada segue a mais incerta, registrou alta de julho para agosto, apesar de ficar 10% abaixo do nível observado em agosto de 2019. Dessa forma, nosso time revisou a projeção de crescimento do PIB no 3º trimestre de 6,8% para 8,5%, na comparação com o 2º trimestre”, informa a instituição.
Mesmo que todas as previsões apontem para a disparada do PIB no terceiro trimestre, o ano ainda deve encerrar com retração histórica abaixo de 5%. O número, no entanto, é muito otimista ante as previsões feitas ao longo do primeiro semestre, no auge da pandemia. Em junho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou retração de 9,1% da atividade econômica do país em 2020. Neste mês, a expectativa foi diminuída para queda de 5,8%. A previsão ainda é mais pessimista que a estimada pelas entidades brasileiras. A CNI espera queda de 4,2%, mais próximo dos 4,5% estimado pelo banco Safra, 4,6% da XP Investimentos, 4,8% da MB Associados e 5% da Cláritas Investimentos. A previsão oficial do governo federal é de recuo na casa de 4,7%.