TCE do Piauí altera regras e aumenta benefícios para autoridades

O Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI) flexibilizou normas internas para facilitar a venda de folgas a conselheiros e procuradores, gerando um impacto financeiro de R$ 7,1 milhões nos contracheques do órgão, incluindo pagamentos a aposentados. A medida, que vigorou retroativamente desde 2023, beneficiou autoridades como a conselheira Rejane Dias, esposa do ministro do Desenvolvimento, Wellington Dias, e ex-deputada federal.

Pagamentos detalhados

Em 2024, o TCE-PI pagou a seguinte quantia em valores acumulados pela venda de folgas:

NomeCargoValor Recebido (R$)
Abelardo Pio Vilanova E SilvaConselheiro481 mil
Jackson Nobre VerasConselheiro481 mil
Joaquim Kennedy Nogueira BarrosConselheiro481 mil
José Araújo Pinheiro JúniorProcurador481 mil
Waltânia Maria Nogueira de Sousa Leal AlvarengaConselheira481 mil
Jaylson Fabianh Lopes CampeloConselheiro Substituto477 mil
Plínio Valente Ramos NetoProcurador-Geral464 mil
Raíssa Maria Rezende de Deus BarbosaProcuradora464 mil
Delano Carneiro da Cunha CâmaraConselheiro Substituto463 mil
Kleber Dantas EulálioConselheiro450 mil
Leandro Maciel do NascimentoProcurador447 mil
Lilian de Almeida Veloso Nunes MartinsConselheira434 mil
Márcio André Madeira de VasconcelosProcurador434 mil
Alisson Felipe de AraújoConselheiro Substituto422 mil
Flora Izabel Nobre RodriguesConselheira334 mil
Rejane Ribeiro Sousa DiasConselheira210 mil
Olavo Rebelo de Carvalho FilhoConselheiro aposentado118 mil
Luciano Nunes SantosConselheiro aposentado58 mil

Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Piauí / *Valores pagos em 2023 e 2024 incluem gastos retroativos a 2021

Mudanças nas regras e aumento de pagamentos

Em outubro de 2023, o TCE-PI reduziu de 300 para 220 o número de processos anuais necessários para justificar o benefício. Além disso, ampliou a possibilidade de acumular cargos que dão direito à “licença compensatória”. O benefício permite até dez dias de folga mensais ou sua conversão em dinheiro, pagos sem incidência de Imposto de Renda.

Em 2024, cinco autoridades receberam R$ 306 mil pela venda de folgas, o equivalente a oito salários brutos adicionais. Conselheiros e procuradores têm remuneração-base de R$ 39 mil mensais, enquanto os substitutos recebem R$ 37 mil. Esses valores, somados aos penduricalhos, superam o teto constitucional de R$ 44 mil.

Pagamentos retroativos e ajustes nas normas

As mudanças também possibilitaram pagamentos retroativos desde 2015. Apenas em 2024, dois conselheiros aposentados receberam R$ 176 mil. A regra de sobrecarga para justificar folgas passou de um dia a cada seis trabalhados para um a cada três, com a justificativa de equiparação a outros tribunais.

Transparência questionada

Por mais de um ano, o portal de transparência do TCE-PI ocultou os valores individualizados recebidos pelas autoridades, divulgando apenas despesas globais. Após questionamento da imprensa, os dados foram atualizados.

O tribunal justificou os pagamentos com base em legislações federais e estaduais, bem como atos normativos do CNJ, CNMP e outros órgãos. Apesar disso, especialistas como Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas, criticam a violação do teto constitucional e apontam a necessidade de punições para evitar abusos.

Impactos e debates

As alterações no TCE-PI refletem uma prática crescente em tribunais de contas e outros órgãos públicos, mas levantam questionamentos sobre transparência e uso de recursos públicos. O caso acendeu o debate sobre os limites legais para benefícios a autoridades e o papel das cortes de contas na defesa do interesse público.

By Canoas Informa

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